sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Silêncios

Ouvi em uma música, certa vez, a seguinte frase:

“Palavras e silêncios que jamais se encontrarão...”

Se não me falha a memória é do Zeca Baleiro e do Fagner (para dar os devidos créditos e não me acusarem de omitir citações às devidas autorias).
Nunca uma frase disse tanto sobre falar e calar.

Quem cala opta por não falar, mas marca, ainda assim, uma posição. É o famoso “quem cala consente”. Temos sempre duas opções: ou falamos, ou calamos e ambas não passarão em branco.
Certas vezes o melhor é calar, deixar como está, seguir em frente, tocar adiante...passa!
Às vezes é preferível falar, cuspir, deixar sair tudo que engasga, que tranca, que sufoca, porque em demasia mata...

Qual a melhor opção em qual momento? Qual a melhor decisão? Existe?
Há silêncios que gritam, nenhuma construção em palavras seria capaz de exprimi-los tão bem... e nós, muitas vezes, não conseguimos ouvir. Ensurdecemos! Precisamos da palavra, do dito, precisamos fazer com que o estímulo sonoro aguce nosso tímpano, chegue ao nosso cérebro e o faça funcionar...ou não!

O não falar, o vazio de palavras deixa sempre no ar a possibilidade de ter existido outras representações. 'Será que não poderia estar oculto naquele silêncio uma outra versão, uma outra informação? Será que eu entendi exatamente o que aquele silêncio quis dizer?' Como pode um silêncio querer dizer algo? Pode. E, quando diz, diz alto e diz firme. Diz não, diz sim, diz tchau, diz voltei, diz chega, diz desculpa, diz tarde demais, diz o que não se pode ou o que não se quer dizer...diz tudo.

Existem momentos em que calar é, de fato, a melhor opção. Não há palavras que caibam em determinados silêncios, não há tradução para eles – sejam de dor ou alegria. Talvez por isso as palavras e os silêncios jamais irão se encontrar. Possibilidade vetada.

O silêncio pode ser a ceifa, mas pode também guardar a esperança. Traiçoeiro. Enigmático, mesmo na mais franca objetividade. Guarda sempre um ar de mistério, de não-saber, de oculto, para quem quiser entendê-lo assim. Deixa no ar tudo, sem deixar rastros.

Assim é... sabendo ouvir os silêncios alheios e sabendo falar os nossos podemos recolher as palavras, quando elas não se fazem necessárias, deixar de lado o relato fraseado do óbvio, deixar de lado a recusa em entender o dito, mesmo sem ter sido dito.
Na dúvida, melhor deixar quieto, ficar quieto...não ultrapassar.

E a vida segue até que as palavras surjam novamente, quebrando a pausa, gritando em voz alta – mas que sejam verdadeiras, fortes e façam valer o que desejam realmente dizer.


Keep your clever lines
Hold your easy rhymes
Silence everything
Silence always wins
It’s a perfect alibi
There’s no need to analyze
It will be all right
Through the longest night
Just silence everything
(A-HA - Foot of the mountain)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Seja bem-vindo!


- Oi tudo bem? Pode entrar, fica à vontade. Não! Não senta aí! Quer dizer, senta...ah, sei lá! Sente-se onde quiser. Só tira as roupas de cima da poltrona, ficará mais confortável! Não deu tempo de colocar os livros no lugar, afinal os dias tem sido de uma grande correria. Acho que precisava de umas 5 horas a mais a cada final de tarde. Cansada? Eu? Não...quer dizer, sim, às vezes. Dormir? Tenho dormido bem...dizem que quanto mais idade menos sono as pessoas precisam, né? Durmo umas 5 horas, tá bem assim? Não? Cinco horas seria bom se eu estivesse com 70? Humm...é...tens razão! Ah, mas nisso se dá um jeito. Dorme-se quando pode. Quer conhecer a casa? Não tenho muito o que apresentar de novidades. Tem algumas coisas que terás que ajudar a pôr em ordem. Há uma mudança toda por fazer em breve e alguns consertos também. Lembra do quadro na parede, pois é...as fotos seguem ali...é mural que chama, né? Isso! Seguem ali. Segue também o espaço vazio. Quem sabe tu não podes ajudar a preencher, pois acho que sabes para quê serve ele. Estou tentando deixar tudo mais clean e arejado, sabe? Amplo? Aberto? Claro? Cheio de luz e sol? É, bem lembrado! Amo o sol! Mas não adianta...tu sabes que levar o carro para lavar é prenúncio de chuva na certa. Pode ser aos 28, aos 29 ou aos 50, 69, 76...vai ser sempre assim! Aqui ficam as contas, ali, na outra gaveta, papéis de toda ordem. Os sonhos? Estão por todos os cantos. Dá para respirar sonhos aqui! Só não voa! Qualquer coisa tem uns halteres no chão...são para exercícios, mas se precisar voltar para a realidade, amarra-os nos pés, sem medo! Aqui alguns livros que devem ser lidos nas próximas férias de verão, ali os remédios da alergia, ali os cobertores para o final do inverno. Estás acompanhando? Se eu tiver que ir com mais calma me avisa, ok? Não sei se te sentes mais cansado ou se ainda estás com tudo em cima, como eu! Se bem que já estive melhor, logo que comecei! Calma, por sinal, é algo a ser cultivado mais em umas situações e menos em outras. Não se acostume demais com coisas que não estão sendo profícuas, mas sigas sabendo dar as chances necessárias para que as distorções possam ser corrigidas...sem o quê? Sim, sim! Sem exageros! Ali é o livro de culinária, os amigos gostam! Ah, quanto à família e aos amigos...saibas cultivar todos e cada um, certo? Uns precisam de água diariamente, outros semanalmente, eles são diferentes. O fato é que a casa deve estar sempre aberta para recebê-los. Se o lugar é iluminado, muito disso deve-se a eles, a todos eles! Quando não estiver tudo bem? O que acontece? Ah, os amigos saberão, certamente. Bom, nestes dias feche as janelas e dê um tempo do mundo. Mas não estranhe se algum deles vier correndo bater na porta! Eles são bem atentos. A família vai, sim, se reunir em torno da mesa e da tv. Eles gostam disso. Gostam de fotos também! Bom, em linhas gerais, acho que era isso que precisavas saber para começar, né? Tens alguma pergunta? Muitas? Ah, certo! Bom, mas é normal para a primeira semana. Provavelmente terás muitas dúvidas também. Olha, se precisares qualquer coisa, podes perguntar...tentarei ajudar no que for possível. Naquilo que eu já souber responder. Para outras tantas coisas acho que vais ter que procurar as respostas! Ah...desculpe perguntar novamente seu nome... Vinte e nove? Muito prazer! Seja bem vindo!

domingo, 19 de julho de 2009

Combos!


Já perceberam a popularidade da expressão Combo? Pois é...esses dias estava pensando nesta palavra. Antes dela surgir eu sequer sabia o que era. A primeira vez que ouvi foi com a NET...NET Combo, tudo em um só pacote: telefone, Internet e TV a cabo. Perfeito. Grande sacada! Então achei que Combo era vinculado à NET e só isso. Qual não foi minha surpresa ao ver a palavra em outro contexto, na fila do cinema. Combo: pipoca grande + refri + chocolate. Sim! Existem Combos em cinemas também. Mais um 3 em 1. Tudo em um só pacote. Perfeito, de novo! Não que eu goste de pipoca, mas tem seu valor comprar tudo junto por um preço reduzido.


Então comecei um questionamento mais profundo...por que será que outras coisas não podem também vir em Combos? Seria tão mais prático se na vida tivéssemos Combos nas mais diversas situações. Pensem comigo. No trabalho: problemas + soluções + aprimoramentos da situação. Seria um Combo profissional. Problemas haverão de existir sempre, mas eles poderiam vir com soluções, no pacote, e ainda aprimoramentos – teríamos, então, nosso devido reconhecimento pelo nosso Combo adquirido, ou constatado. No terreno amoroso: companheiro(a) legal + fiel + sincero? Ou então sair com alguém que seja bacana + ligue ou atenda o telefone no dia seguinte + não suma de repente no decorrer do percurso. Seria um kit básico, podendo ter upgrades no decorrer do caminho. Para as mulheres: já pensaram um pacote básico de mãos + pés + depilação por preço reduzido? Para os homens: currasco + cerveja + futebol, sempre os três andando juntos? Tudo pode ser transformado em um Combo. Um primeiro encontro legal: risadas + barzinho ou janta + boa sintonia? Seria um encontro Combo! Um domingo bacana envolveria parque + chimarrão + sol. Domingo Combo! Um dia de chuva: cama quentinha + filme + boa companhia. Dia de chuva Combo! Tudo na vida pode ser Combo.



A palavra, que me perdoem seus idealizadores, é feia pacas! Combo, oras! Mas ela é um reflexo das nossas necessidades aglutinadoras. Vamos juntar tudo! Colocar tudo em um mesmo pacote e baixar o preço, ou ter vantagens com isso. Ah, seria muito bom esses Combos últimos! Pena que impossíveis, alguns impraticáveis...



Além disso, talvez existissem os Combos do azar também, aqueles que acontecem nas nossas vidas esporadicamente, ou não. Tenho um amigo que se considera um azarado-mor. Aquele cuja Lei de Murphy pode ser aplicada a cada passo! Diz ele que se fosse dono de um circo a mulher gorila teria queda capilar, o anão cresceria e o equilibrista sofreria de vertigem. Combo do azarado! Tem aquela trilogia: nada dá certo + você tenta consertar + fica pior ainda. Combo do desastre, na certa! Não cairíamos na ingênua ilusão de que em existindo Combos eles trariam apenas as coisas boas em pacotes, né?



A mim agrada a idéia...mas desagrada também, já que Combos não permitem maior flexibilidade. E se eu quiser só a pipoca? Às vezes ela é mais cara sozinha do que no tal Combo...inferno isso! E se eu quiser só a TV? E se eu quiser apenas um dia de chuva? Apenas um chimarrão? Apenas o churrasco? Não dá... o modelo Combo vem sem separações! Vem com todos os opcionais aglomerados. Combo é combo e ponto! Sendo assim, melhor mesmo é que os Combos não ganhem muito mais espaço...tenhamos nós a liberdade de escolher itens a granel!

Descaminhos...


Fazia um breve tempo que estavam saindo. Gostavam de estar juntos e o tempo que compartilhavam era peculiar. Um tempo único, talvez até uma parada no tempo, no qual nada mais havia...apenas eles, beijos e a vontade daquele instante. Saiam apenas, e era isso! Sem promessas, sem ontem e, também, sem amanhã. Simples assim. Nem lembravam bem, ou sequer sabiam, o que os havia unido. Talvez gostos em comum, músicas, uma dança...talvez nada disso. Quem sabe justamente as diferenças, aquelas coisas que um tem e o outro não, que um faz mais e o outro menos, que um carece e o outro tem de sobra? Mas nada disso importava, a não ser o fato dos instantes que estavam juntos. Estes se sucediam. Entre os instantes não precisava haver nada. Nada havia. Os instantes em si é que eram apreciados.

O tempo, sempre ele, foi passando. Aqueles breves instantes foram se assentando de formas diferentes para cada um deles. O que antes era fácil de entender passou a ficar um tanto difícil. Não se pode, de fato, reproduzir os instantes por um longo tempo sem que isso tenha uma repercussão. Assim, já não sabiam mais se de instantes seguiriam, sem ontem nem amanhã, ou se isso incomodava. Não tocavam no assunto. Os fatos objetivos e concretos que os unira ainda poderiam ser vislumbrados ali: a música, alguns gostos, alguns jeitos, as risadas, as implicâncias provocativas que aproximavam-nos. Mas o tempo introduziu, não se sabe em qual deles, a vontade de sentir menos instantaneamente os outros fatores...o cheiro, o sorriso, a pele, a voz, o toque, o frio na barriga. Breves instantes pareciam bons, mas não eram mais suficientes. E o amanhã? E o ontem? A vontade de que os instantes ocorressem mais freqüentemente foi crescendo...não se sabe se nele ou nela. Mas não se falavam. Não sabiam se a recíproca era verdadeira, se encontraria eco no outro, se desejavam as mesmas coisas. Talvez não.

Os contatos se afastaram na tentativa de fazer prevalecer os instantes. Mas nada parecia estar igual. Como saber? Nenhum falaria, nenhum queria falar. Só que as ações são traiçoeiras e falam mais que palavras, muitas vezes. Muitas vezes, sozinhas, falam errado, comunicam distorções. Não se sabe se ele ou ela começou a ficar com receio de demonstrar o que realmente sentia. Melhor era deixar assim. Quieto. As pequenas tentativas de mostrar uma faísca de verdade do que era sentido, muito sutilmente, não haviam sido bem sucedidas. Nunca souberam se a recíproca era verdadeira. Poderia não ser, e isso certamente doeria. Aparentemente não era. Aparentemente. Não era. Era? Não se sabe se ele ou ela pensou que seria melhor evitar a dor. Recolheram-se.


Não existe fim...existem reticências. História comum, lugar comum...história de qualquer um. História que se repete, mais para uns, menos para outros. Finais diversos. Depende. Como diz a frase: a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. Pode haver reencontros também. Assim é. Pena que não se falaram, pena que, não se sabe se ele ou ela, ficou com a sensação de não ter sido bem recebido ao demonstrar o que sentia. Pena que recuaram. Recuaram? Ou não. No fim ainda as reticências... e Clarice Lispector:

“Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos”.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Tempo


6:40. Toca o rádio. Anuncia-se 7 graus de temperatura. Que dia é hoje? Sábado? Não. Segunda? Tenho que acordar agora ou posso ficar mais um pouco? Se for terça posso ficar mais um pouco. Ai meu Deus...que dia é? Pensa. Acorda! Segunda. Hoje é segunda, sem dúvida. Vamos lá! Café no escuro, tentando entrar em contato com a realidade. Coisa mais insuportável pessoas querendo discutir ou fazer grandes reflexões matinais. Não! Café é em silêncio e no escuro. Depois o resto dos afazeres até sair de casa. Frio. Sair de casa no frio é muito pior! Sai fumaça do nariz. Neblina, mãos congeladas, pés duros. Lá vamos para mais um início de dia e de semana. Repassando rapidamente os afazeres e locais onde preciso ir, chego mentalmente às 21hs. Como eu quero que chegue logo as 21hs. Daí volto para casa e fico quentinha!

Terça, quarta, quinta, sexta. Já acabou? Sim. As semanas passam voando. Engraçado que quando eu era menor parecia que demorava uma eternidade para o tempo passar. Onze anos no colégio, ou isso em média, como alguém consegue? E é tão demorado quando está acontecendo. Depois fica tão longe. Hoje o tempo voa. Ontem era março, já estamos no meio de junho. Incrível! E ainda preciso fazer tantas coisas...há tantas pendências!

E assim se percebe que o tempo é relativo. Tem momentos em que corre solto, desliza, voa. Em outros empaca, tranca, para. Como isso? Assim mesmo! Esteja certo que se você precisa fazer muitas coisas o tempo vai voar e você vai ter que correr. Se estiver esperando alguma coisa ele vai parar e você vai ter que ter paciência. E quanto mais coisas fazemos mais achamos tempo para fazer mais coisas. Confuso? Não, real. Por outro lado, quanto menos ocuparmos nosso tempo, mais complicado será para agendarmos algum compromisso...tudo parecerá difícil e complicado. Tempo complexo!

Quando a gente se dá conta passam-se dias, meses, anos. Às vezes precisamos reordenar os planos para o tempo. Em geral isso acontece nos finais de ano – ‘resoluções de Ano Novo’. Quem não faz? Neste ano eu vou achar mais tempo para tal coisa, vou me organizar para fazer x, y, z, vou começar a nadar, fazer línguas, entrar naquele curso. Ilusoriamente o dia primeiro de janeiro serve para esta sensação de tempo que começa. Mas eu fiz isso em janeiro e já estamos em junho! Sequer consegui cumprir metade das coisas que pensei! Na verdade, já nem lembro mais o que pensei... O tempo também tem a prerrogativa de transformar os pensamentos, mudar o rumo, incorporar novos desejos. Algumas coisas permanecem no tempo, sobrevivem, outras não. O bom é que o tempo sempre nos dá tempo para mudar. É possível corrigir rotas, rever conceitos, mudar o caminho.

Às vezes, o tempo também resolve enlouquecer. O passado invade o presente, bagunça tudo. Ou o futuro se antecipa, criando expectativas desnecessárias. Perdemos o tempo, por vezes, ou nos perdemos nele! Tempo traiçoeiro! E aí? Faz-se o que com ele? Tenta-se achar um equilíbrio, usá-lo a nosso favor. Que possa ser bom o suficiente para nos fazer aproveitar as oportunidades, curar algumas feridas, matar tantas saudades, realizar diversos desejos, concretizar sonhos. Que não seja mau a ponto de atropelar o caminho, fixar conceitos, enraizar condutas, nos perder.
O tempo não para! Também nós não podemos parar. Tempos alheios se encontrarão com o nosso, ou não. Quando os tempos estiverem sincrônicos, poderá surgir um tempo em comum – entre amigos, familiares, amores. Mas os tempos também podem ser divergentes, concorrentes. Vicissitudes! Não se pode fazer nada além de deixar o tempo passar.

Bom mesmo é que cada um ache o seu tempo, da sua maneira e aproveite as coisas boas que ele conserva e as surpresas que traz. Passando rápido ou devagar, o tempo sempre guarda espaço para o que já foi e para o que virá. Território de lembranças e esperanças, que nele se encontram. Assim passamos o nosso tempo, ou ele vai passando...correndo macio, espera-se!

domingo, 31 de maio de 2009

Testemunhas


Vai se aproximando o dia dos namorados e estouram as promoções nos shoppings e as propagandas e outdoors por todos os cantos. Não se vê muito mais além de corações enfeitando vitrines, músicas, saudações especiais nas entradas de restaurantes e frases declarativas.


Em meio ao clima e a tantas frases clichê uma me chamou a atenção...nem sei se foi por ocasião do dia dos namorados, data estritamente comercial, ou se foi em algum filme, livro, ou se alguém me contou...já não lembro mais! O fato é que dizia algo do tipo: as pessoas desejam um companheiro, um namorado, um amor, porque precisam se assegurar de que haverá alguma testemunha para a sua existência nesta vida.


Parece meio simples, e até egoísta, mas fiquei com esta frase na cabeça, tentando destrinchá-la melhor. Percebi, então, que é bastante verdadeira. Somos seres sozinhos por natureza. De uma visão bastante pessimista, nascemos e morremos sozinhos. Neste entremeio a vida acontece. É o recheio, a tal existência. Passado o período inicial, no qual temos nossos pais, irmãos e familiares como companhia mais próxima, saímos em busca de alguém que possa nos completar, a nossa tal testemunha.


A busca é bastante pessoal: uns levam anos procurando até encontrar a outra metade da laranja; outros levam anos, mais anos, mais anos e nunca encontram; uns pensam ter encontrado e se surpreendem ao ver que a busca precisa ser reiniciada; outros insistem em dizer que não querem encontrar, que acham desnecessário, outros tantos pensam que jamais encontrarão e, quando se dão por vencidos, tudo acontece subitamente...enfim os caminhos são inúmeros e as possibilidades diversas. Mas o ponto é comum: a testemunha! Por que mesmo?


Eis a questão. Porque é bacana a idéia de ter alguém que nos conhece tão bem a ponto de entender nosso humor a quilômetros de distância; porque é legal poder compartilhar as minúcias de todo dia; porque é bom saber que existe alguém que conhece nossas manias e nossas idiossincrasias e as aceita, a despeito das estranhezas; porque é tranqüilizador saber que alguém, na nossa ausência, saberia responder sobre nossos gostos e dizer qual nosso prato predileto ou filme marcante; porque é único aquele alguém que tem um cheiro especial, que se consegue evocar até na ausência; porque é a certeza de um colo reconfortante para chorar, descansar, repousar ou, simplesmente, ficar em silêncio; porque é, também, a certeza de companhia agradável, risadas, grandes bate-papos e beijos de bom dia e boa noite, dentre outros; porque é alguém que pode nos dizer as piores verdades e fazer as críticas mais severas sem que isso signifique desprezo; porque é o abraço mais acolhedor; porque é alguém que briga, xinga, fica com raiva, mas que acredita ser possível contornar os problemas; porque, acima de tudo, é alguém que também nos escolheu como testemunhas de sua vida, de sua existência.


Assim, sabemos que não passaremos a vida em vão. É claro que amigos também são testemunhas de nossa existência, mas não há nada como aquele alguém especial. Dizem que as pessoas conseguem saber quando encontram e, dizem também, que encontram quando menos esperam, nos lugares mais improváveis e desobedecendo todas as prerrogativas traçadas anteriormente. É o puro acaso.


Não interessa a forma, apenas o fato de que em determinado momento das nossas vidas, mais cedo para uns, mais tarde para outros, uma testemunha parecerá interessante! Ela assinará conosco os projetos mais absurdos e sua presença será garantia de que, no entremeio da vida, haveremos de ter a sensação de não estarmos sós! Como mostrava no filme (sim, lembrei! Vi esta frase da testemunha em um filme!): uma testemunha, e apenas ela, poderia lhe dizer ‘sua vida não passará despercebida, pois eu a perceberei em todos os momentos’.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Às vezes o ON some...


Eu sempre achei engraçada a relação professores/tecnologia. Confesso que sentia vontade de rir quando ia assistir a uma aula na qual o professor usaria o data show, ou dvd ou vídeo cassete (quando eu estava no colégio). Eles nunca, mas nunca sabiam mexer nos botões. Era patético, pois sequer sabiam ligar a tv. Ficava pensando: ‘como eles fazem em casa? Justamente lá, onde não tem os técnicos de suporte que as escolas ou universidades oferecem’? E gastava-se nisso uns bons 15 minutos da aula.


A dinâmica era simples: desde o anúncio ‘pessoal, vamos ver um filme’ até a constatação de que a tv não estava funcionando bem – pois não ligava e ficava mostrando aquelas mosquinhas na tela – e o pedido ‘Joãozinho vá lá chamar o cara do audiovisual’, passavam-se uns 8 minutos. Os outros 7 ficavam por conta da locomoção do funcionário até a sala de aula. E o melhor era ver a facilidade com que o cara do audiovisual arrumava uma solução. Ele apertava o ON! Simples assim! Indolor! E a imagem se fazia! Essa parte era meu deleite sádico...não sei por que, mas achava aquilo tudo muito engraçado. Os professores pareciam seres com dificuldades tecnológicas, talvez excluídos digitais.


Nada como um dia após o outro. Se eles pudessem ler meus pensamentos naquela época, hoje, certamente, o deleite sádico estaria ao lado deles. A questão toda é que fui usar o data show estes dias em uma aula. Liguei tudo antes, ajeitei e estava super tranqüila, afinal eu não era uma excluída digital. Tudo pronto, bastava inserir o dvd na hora de passar o documentário, apertar no play e era isso! Pelo menos era isso que deveria ser. Quando chegou esta parte, a de inserir o dvd, quem disse que eu achava o eject para abrir a bandejinha? Sequer achava a bandejinha! Sumiu tudo! Para falar a verdade, nem o play eu encontrava. E logo me veio aquela imagem na cabeça...a dos meus professores que não sabiam mexer com a tecnologia. Mas eu não me daria por vencida, lutaria até o final, sem me entregar!


Olhei, olhei, olhei...mas não estava ali. Sequer o ON eu achava de novo. Aquele maldito círculo cortado ao meio por uma pequena linha vertical havia desaparecido! Deve haver algum tipo de situação extraterrena que faz com que os botões simplesmente fujam quando os professores se aproximam deles. Pior! Eles fogem bem na hora em que 45 pares de olhos te fitam fixamente, esperando pelo filme prometido. E eu pensava secretamente que muitos dos alunos deviam estar pensando que eu era uma analfabeta digital. Deviam, também, estar se perguntando ‘como ela faz em casa? Como liga a tv ou o computador’? Em minha defesa queria poder gritar ‘eu sei fazer isso, tá bom? Só estou tentando achar os botões!’. Sou capaz de jurar que naquele momento sequer haviam botões naquela aparelhagem toda! Eles saem correndo e se escondem, só retornando na presença do funcionário do audiovisual.

Comigo, é claro, não foi diferente. Passaram-se os 15 minutos entre a constatação dura e difícil de que eu não estava conseguindo fazer algo que já fizera mil vezes antes e o funcionário do audiovisual acertar tudo para mim, com aquele risinho de canto de boca. Tenho certeza que é ele que fica de conchavo com os botões...certeza! Ou, se não é ele, são todos os meus professores dos quais algum dia eu ri por não saberem achar o ON. Nada como estar do outro lado do aparelho!